Casamento de JGP com BB, Régia Capital quer captar R$ 20 bi para ESG
Ideia é juntar a expertise em investimentos sustentáveis da gestora carioca com a capacidade de distribuição da asset do banco
Régia. De vitória-régia, a planta aquática da Amazônia. Sem acento, uma flexão do verbo reger. Essas foram as inspirações da JGP e da BB Asset, do Banco do Brasil, para nomear a nova gestora focada em ESG resultado da joint-venture entre as duas casas.
A Régia Capital nasce com R$ 3,5 bilhões sob gestão e tem como meta atingir R$ 20 bilhões até o fim de 2025. A ideia é juntar a expertise em investimentos sustentáveis da gestora carioca com a capacidade de distribuição do Banco do Brasil para financiar, por meio de capital nacional e estrangeiro, empresas e projetos na transição para uma economia de baixo carbono.
“O papel das gestoras é o de canalizar capital para mandatos específicos. Na Régia, nosso principal objetivo é fomentar e financiar externalidades positivas para a economia”, diz Alexandre Muller, sócio-gestor e diretor-executivo da Régia Capital, ao Reset.
Entre as teses de investimentos, estão no radar agricultura regenerativa, transição energética, saneamento básico e iniciativas de educação.
A Régia vai ficar com todos os fundos com mandatos de ESG da JGP. Os de crédito privado foram os primeiros transferidos, daí parte do patrimônio inicial. De janeiro a setembro, o canhão de distribuição do BB já mostrou sua força, garantindo a captação de R$ 3 bilhões dos atuais R$ 3,5 bilhões sob gestão.
A primeira família de fundos da casa nova foi criada, focada em crédito privado ESG, com horizontes de investimento adequados para cada segmento de clientes do BB: varejo e private, fundos de pensão e regimes de previdência de Estados e municípios (osRPPS).
A nova casa também acaba de conquistar o mandato para gerir um fundo bilionário de minerais da transição em consórcio com a Ore, que tem Vale e BNDES como investidores âncora.
Para 2025, estão no forno o lançamento de um fundo de ações ESG focado em dividendos, que seria o primeiro do tipo no Brasil, segundo Muller, e um fundo de crédito de carbono.
Originação
A demanda de capital e financiamento para a transição para uma economia de baixa emissão de gases de efeito estufa é grande. As projeções são na casa dos trilhões de dólares nos próximos anos para que empresas e governos atinjam as metas propostas para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.
Com umas das maiores florestas tropicais do mundo e uma matriz energética limpa, o Brasil emerge como um potencial hub de soluções para o mundo. “O Brasil é o país mais biodiverso do mundo, por isso tem que estar no centro das soluções baseadas na natureza”, diz Bragança, o diretor comercial.
Mas, para o potencial se tornar realidade, o caminho é longo. É preciso colocar os projetos de pé, mensurar seus impactos, ter taxonomia e políticas públicas e privadas que direcionem recursos, certificar os resultados.
Então, a pergunta que também surge é: existem projetos para todos esses veículos de investimentos voltados à transição?
A Régia conta com dois trunfos, na visão dos sócios. O primeiro é a capacidade de originação de negócios da carteira do Banco do Brasil, maior financiador do agronegócio– que divide com o desmatamento o protagonismo nas emissões brasileiras de gases de efeito estufa.
O segundo é uma outra joint venture da JGP, a JGP Financial Advisory, fruto da união com a consultoria L6. Ela é especializada em fusões e aquisições e estruturação de ativos.
“Você deixa de depender somente do que está disponível no mercado para alocar sua carteira. Só que antes as operações tinham tamanhos menores e agora podem ganhar escala com a parceria com o Banco do Brasil”, explica Bragança.
Ela toma emprestado um conceito criado por Pugas: design intencional de impacto. “Ele fala que temos o papel de arbitrador das diferentes partes, que vai além da inteligência financeira, para conseguir criar um instrumento financeiro necessário para a solução de capital para aquele projeto específico, para viabilizá-lo.”
Estratégias
Uma das estratégias que a equipe da Régia quer explorar é a de venture capital, para financiar empresas e projetos em seus estágios iniciais.
“Queremos entrar no ‘early stage’ de companhias que enderecem um problema importante de emissão, por exemplo, mas que às vezes têm barreiras de entrada ainda muito grandes”, diz Bragança. Ele cita como exemplos os setores de bioinsumos, biofertilizantes, biocombustíveis, proteínas alternativas e energias alternativas.
No caso do private equity de mineração, por exemplo, está previsto que cerca de 80% do portfólio seja investido em ‘junior mining’, empresas não operacionais que estão na fase de exploração e pesquisa.
Já nas grandes empresas, a estratégia é de engajamento, principalmente das grandes poluidoras. Para Bragança, essa é uma mudança na maneira de pensar investimento sustentável, que antes estava mais voltado para uma ‘triagem negativa’ e passou a ser de engajamento para a descarbonização das cadeias produtivas.
A gestora tem uma pessoa dedicada para engajamento com as empresas, perspectiva que os times de analistas também incorporam.
O plano é ter uma grade de produtos tradicionais, com estratégias de crédito, ações, private equity, e também estruturados com táticas alternativas, como blended finance, finanças de transição e venture philanthropy.
“É difícil pensar na Régia em termos de fundos, porque eles são apenas a forma de fazer o que a gente faz, que é construir soluções de capital para investidores e empreendedores”, diz o diretor-executivo.
A gestora faz, na visão de Muller, parte de uma segunda fase da agenda de ESG no mundo. A primeira foi a identificação do problema, mas sem necessariamente vir acompanhada do ferramental para resolvê-lo. A consequência, muitas vezes, foi o negacionismo.
“A Régia é mais orientada para a construção de soluções técnicas para que o capital alcance o fomento de externalidades positivas.”